terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ainda sobre o tempo


“O tempo não para...”

Não para mesmo. Penso então na importância do valor das pequenas coisas, muitas vezes esquecido. Penso em cada sorriso interrompido, em cada palavra não escutada, em cada olhar sem destino.
Tudo passa. O que está em questão é o que se fez com o passado. Talvez perdido em algum porão escuro para uns, para outros, que assim o preferem, está “morto e enterrado”.
Se a vida é feita por três tempos, eu os quero inteiramente. Quero olhar pra trás sem mágoas, ou inconformidades. Ter na consciência que certas partes deste jogo ficaram em outro tempo sobre o qual não mais atuo.
Outras destas partes me acompanham. Faço questão de mantê-las vivas em mim. Seja no pedaço de papel amassado, nas poucas fotos que tenho ou em objetos que adquiriram novos significados.
Itens que se convertem em aparatos à fragilidade da memória e ao saudosismo do coração. “O que o coração ama fica eterno”. Pode ser que não me lembre com exatidão de algumas coisas, aí busco apoio nessa pequena coleção que vou ampliando.  
É sempre um revisitar. Cartas que leio, releio... Canções e imagens que me reportam ao que não devo e nem quero esquecer. Até mesmo palavras, que, ditas de outras maneiras se transformaram em registro.
É o que quero do passado: a capacidade de manter vivo o que faz bem e que deve ser eterno, e de deixar em seu devido lugar o que não deve ressurgir.
Tenho planos para o futuro, também conto com o destino, o que mais quero é seguir.

                                                                                         Amábile Oliveira


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

“Não haverá passado nem futuro, só o presente há... ♪”



Dentre as poucas certeza que acreditamos existir, a imponência do tempo e seu percurso é a mais absoluta.
A coexistência do que já foi e o que há de vir se traduz no presente, por sua vez, nada mais que um tempo abstrato, que não é passado, nem futuro. Sensação leve e imperceptível, embora ligeira, assim como a transposição que existe entre o cair da tarde e o nascer da noite.
No momento em que minhas palavras preenchem este papel, milhares de eventos se sucedem. E o que fica depende de cada ser.
Tem gente que vive de passado. O mesmo sabor, o mesmo aroma, as mesmas manias, os mesmos caminhos.
Não mudam, não arriscam galgar evolução. Me vem à mente o sentido da palavra “desenvolver”, basicamente relacionado à atitude de deixar para trás certos traços, abrindo espaço então para novas descobertas, como a lagarta que deixa o casulo e se transforma em borboleta. Esse deixar para trás não significa abandono, pelo contrário, está mais relacionado à coragem de ver a mudança de tempo, sentir quando a vida pede uma nova fase, um recomeço, quem sabe...
Quando me desenvolvo aceito a máxima do tempo como passageiro e me sinto diante do real sentido da vida: viver cada coisa em seu tempo. Isso me faz lembrar a simplicidade da voz materna dizendo: “Calma, tem paciência. Se não deu certo agora, não era pra ser. Vai com calma que você consegue...” Palavras que, de tão simples, são sábias.
Sei que nem sempre o mundo espera. Como diz um poema que gosto, de Flora Figueiredo: “Apesar do tempo e sua pressa desleal...”, realmente, às vezes a velocidade do tempo choca, e somos forçados a certos atos impensados, automáticos. Diante disto, reafirmo em mim a necessidade parar, permitir que a cabeça esfrie e o coração se tranquilize. Se tudo tem um tempo, faço desse instante o meu tempo. Tem dado certo. Desacelerar-se faz-se necessário.


                                                            Amábile Oliveira

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Entre pessoas, textos, livros



É entrega. A gente volta transformado; mais do que isso, volta transtornado. Se não for assim, não aconteceu a reportagem. Além de um sarau, um bate-papo, vi ali uma aula. De jornalismo, de humanidade. Encantada com a identidade que imprime em seus trabalhos, pude ver de perto e ouvir a narrativa de quem só conhecia pelos livros. Eliane Brum.

Entre relatos de reportagens e lembranças dos personagens da literatura da vida real, Eliane falou um pouco de sua época de escola e da relação com a leitura. Na minha casa tinha que ter duas coisas: comida e livro; roupa nunca foi tão importante. Na hora me veio à cabeça um trecho de Meio pão e um livro, texto de Federico García Lorca, escrito em 1931.

[...] Não só de pão vive o homem. Eu, se tivesse fome e estivesse abandonado na rua, não pediria um pão, pediria meio pão e um livro. Critico violentamente os que falam apenas de reivindicações econômicas, sem jamais ressaltar as culturais, que os povos pedem aos gritos.

Ótimo que todos os homens comam; melhor que todos tenham saber. Que gozem todos os frutos do espírito humano, porque o contrário é serem transformados em máquinas a serviço do Estado, convertidos em escravos de uma terrível organização social.

Lamento muito mais por um homem que deseja saber e não pode, do que por um faminto. Este aplaca a fome com um pedaço de pão ou algumas frutas. Mas um homem que têm ânsia de saber e não possui os meios, sofre uma profunda agonia, porque são livros, muitos livros de que necessita. E onde estão esses livros?

Livros! Livros! Palavra mágica que equivale a dizer: ‘amor, amor’, e que os povos deviam pedir como pedem pão ou anseiam por chuva após semearem [...]”

Recebi esse texto de uma professora que é ao mesmo tempo aluna, Jéssica. Como eu, ela acredita na beleza de ensinar e aprender. Assim, dois aliados. Transmitir conhecimento ao outro e dele receber também. Gosto de ler. Os livros, as pessoas, a vida. Percebo que é importante saber que não se está sozinho nessa.

A leitura e a escrita têm o poder de aproximar mundos que são distantes. Acredito profundamente nisso. Eu também, Eliane, eu também!



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Gente simples


Não gosto de gente azeda, amarga, insípida.
Gente que vive de mal com a vida. Não sorri de graça. Não diz bom dia, não deixa marca.
Que, sem perceber, desperdiça o poder que tem de criar laços. Gente que não se apega a ninguém, nem se deixa apegar.
Por vezes agem como autossuficientes. Só lhes importam seus interesses egocêntricos, opiniões narcisas.
Alguns até se importam com a opinião dos outros, desde que sejam semelhantes em personalidade. Tem gente que precisa de fãs e não de amigos. Desejam ser o centro das atenções. Só a própria opinião deve prevalecer. Quem não se mostra seguidor é carta fora do baralho. Penso tratar-se de muito estrelismo pra pouca constelação. Esquecem-se que não há céu que brilhe com apenas uma estrela, aliás, constelação denota um conjunto delas.
Me encanta gente simples. Que cativa, que não hesita em prestar apoio a quem necessita. Pessoas que fazem o bem gratuitamente, de forma espontânea.
Que mantém o sorriso aberto. Seres convidativos a boas, profundas e intensas conversas. Gente que permanece, fica eterna. Gente que é vida, que vive, e não apenas existe.


                                                                                                                      Amábile Oliveira

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Eu e Tu

           Admiro pessoas que têm a capacidade de tornar melhor o dia daqueles que estão à sua volta. Hoje foi assim. Às vezes me pego triste e alguém com brilho nos olhos, sorriso na voz e bondade nos gestos mais simples tornam momentos comuns belas oportunidades de ser e fazer feliz.
         Nem precisam bater à porta, deixo entrar sem pedir licença. A música para, o livro ou revista se fecham e o coração se abre. Assim também os olhos e ouvidos, que atentos mergulham nessa chance de me descobrir pelo encontro com o outro.
            Certa vez li o seguinte trecho: 

Como diz Martin Buber, o TU está pleno de mistérios a serem sondados. À medida que eu busco a TI, me  projeto por inteiro, me perco e me acho, me revelo  entre o EU e o TU [...]

             A escrita da minha história se dá pela descoberta da história do outro. Antes de ser qualquer outra coisa, sou o que alguns esquecem que devem ser : Um Ser Humano. Me permito partilhar de inseguranças, felicidades e dúvidas, assim mesmo, nessa descontinuidade de sentimentos que é o nosso dia a dia. E me sinto realizada ao trocar experiências de vida. 
            Estamos em construção, e não se constrói nada sozinho. Divido com o mundo a minha  parte nessa obra que é viver. Não percamos tempo lamentando ruínas. Construamos juntos grandes castelos.

                                                                                                                            Aline Oliveira