segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Umas árvores


Por: Aline Oliveira

Gosto de observar e fotografar árvores por aí. Tem sempre uma delas enfeitando a paisagem cinza da cidade, trazendo sombra e colorindo praças, calçadas e esquinas por onde passo. Há pouco li um livro do Rubem Alves sobre uma infinidade de assuntos, entre eles o que me motivou a escrever este texto.

Dentre as diversas crônicas, uma delas falava do desejo que ele tinha de plantar árvores, ainda que não vivesse o suficiente para desfrutar de suas sombras. Uma bela metáfora para falar das utopias que cada um de nós cultiva.

Compartilho do pensamento de Rubem. Ainda que não esteja aqui quando as coisas em que acredito se tornarem reais, as buscarei durante minha jornada. Claro que, pelo caminho haverá quem tente apoiar, mas também quem perca tempo torcendo contra os sonhos de cada um de nós.

Aproveitando a metáfora, haverá quem admire a beleza das árvores plantadas e as cuide com carinho; e quem reclame das folhas secas que caem ao chão, da “sujeira” que se espalha ao redor de nossas raízes. Mesmo assim, plantemos nossas árvores! Seja para colher frutos dia após dia, seja para deixá-los de herança a quem por este mundo passar em algum momento dessa vida.


Pode demorar que elas cresçam, floresçam e nos presenteiem com sua beleza digna dos mais belos quadros impressionistas, mas não deixemos de lado o ato de cultivá-las. 

sábado, 23 de agosto de 2014

Ame amor


Por Andréa Garbim

Acorda teu sono. Invoca tua vocação. Assuma tua missão. Acenda tua escuridão. Ilumine tua Luz. Abrigue tua paz. Entusiasma tua alegria. Sinta tua essência. Conversa teu silêncio. Aprenda você. Redundância é só uma questão de sentimento.

Ame amor!

Tudo que é bom já nasce dentro de nós. Reforce.

Entre o SER e o ESTAR só existe um pensar: Eu sou! Eu estou! Entre o pensar e o agir só existe uma vontade: o querer!

Centra no que quer SER e seja. Centra no que ‘quer ESTAR’ e esteja. Onde, quando, como, porque e com quem: é com você. Entrega teu sonho a você. O resto o tempo faz. O coração se encarrega. E a cabeça também.

Agradeça por aquilo que não tem hora pra SER. Pois tudo deve ESTAR no momento exato.

Como fazer isso?

Identificando e sentindo o que MOTIVA a tua vida!

Mais atitude nas ações. Reaja.

Ame amor. Redundância é só uma questão de sentimento!


Andréa Garbim é jornalista e amante das artes, escrever é uma delas.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Lápis, caneta e alguns erros

Por: Aline Oliveira


Ato de errar, inexatidão, desvio do bom caminho. Engano, desacerto, incorreção, pecado e ilusão. Assim diz o dicionário* quando pergunto o que é erro. Mas deixando de lado os possíveis significados da palavra, pensemos na sua interpretação nos dias atuais.

Ultimamente, na mais simples rotina de nossas vivências diárias, me assusta o modo como nossos erros são interpretados e os julgamentos que recebem pequenas falhas às quais todos estamos suscetíveis. Ainda mais se pensarmos em dias cheios de responsabilidades e resultados a serem atingidos.

Lembro-me dos tempos de escola, em que um estimado professor de matemática era incansável nas correções dos exercícios. Faz, corrige, apaga, refaz. Corrige, apaga de novo, refaz, corrige, aprende! Não importava quantas vezes o erro aparecesse o importante era tentar novamente, ir atrás da solução exata das equações e seus gráficos. Matemática é prática, sempre soube disso.

E vida é prática também, ora. Li dia desses em um livro em que determinado trecho alertava para a necessidade de se alcançar uma narrativa humanizada. É preciso, para tanto, a união de três ações: pensar, sentir e agir – dizia a autora. O que me veio à mente foi que não precisamos apenas de uma narrativa humanizada, necessitamos de algo mais raro ainda: pessoas humanizadas. Pode até soar pessimista, mas não deixa de ser verdade.

Não raro tem gente por aí querendo fazer justiça com as próprias mãos, crucificando ações alheias e, claro, transbordando egoísmo por onde passa. Óbvio que é preciso distinguir erros muitas vezes involuntários de ações intencionais, atitudes de má-fé – porque essas sim devem ter suas consequências assumidas.

Volto aos tempos de escola: primeiro, começávamos a escrever com o lápis. Quando tinha mais confiança e o aval da professora, a gente passava gradativamente a usar a caneta. Pensando em algumas situações cotidianas, vejo que falta um espaço de aprendizado, essa figura de um professor que incentive a acertar mesmo que para isso milhares de erros sejam necessários. Alguém que incentive nosso desenvolvimento sabendo respeitar o tempo que leva para isso acontecer. Hoje, não podemos mais falhar. Uma resposta errada te elimina no vestibular, uma frase mal dita (e talvez maldita) te faz perder o emprego, um erro ortográfico desmorona a credibilidade de quem escreve bem.

O erro é visto como algo separado de tudo, nem sempre é levado em conta o contexto de um determinado caso, o que talvez diminuísse a ‘culpa’ da pessoa envolvida. Aliás, essa coisa de culpa é uma tremenda injustiça. Quando em grupo um projeto vai bem, todos querem o mérito, todos ‘estão de parabéns’. Agora se aparece um erro, por mais idiota que seja, não falta quem diga ‘essa parte não é minha, não fui eu que fiz’ (pense se já não passou por alguma situação do tipo).

E no meio disso tudo o que falta é reflexão. Porque ao parar para pensar, uma ou outra hora, a gente percebe que deu mancada e que precisa se desculpar/melhorar/refazer/aprender/ser menos injusto e quem sabe, mais feliz.

Agora, se por acaso esse texto for uma bobagem, assumo o desacerto e volto ao dicionário sem problemas. Não me canso de aprender.



* Erro in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vida a dois, quando for apenas um

Por: Aline Oliveira



O amor que não permite à tristeza tomar conta da trajetória de uma esposa, mãe e avó à moda antiga


É domingo, dia de almoço em família. As panelas estão no fogo e o cheiro de comida toma conta da cozinha inteira. É quase meio-dia. Na mesa, sobre a toalha, alguns vestígios do que foi o café-da-manhã. Os filhos e netos se acomodam pela sala, cozinha e quintal da casa. O silenciar da panela de pressão indica que o feijão está cozido, ao lado do macarrão que aguarda o molho. A água do arroz borbulha sobre o fogão em meio ao calor, presente também lá fora num dia de primavera que mais parece verão. Estão todos ali.


Presença que se faz da ausência

Uma família unida e reunida. Quem está ausente em presença física, permanece vivo, após duas décadas, na memória de quem amou e por quem é amado.

A casa abriga pelo menos quarenta anos de história, situada numa cidade que se emancipou há apenas quarenta e sete. No quintal, Branquinho e Rex saúdam com latidos quem acaba de chegar. O primeiro faz jus ao nome, com os pelos que lembram algodão, parece ser bastante dócil e logo foge para a rua na primeira chance que tem. Rex tem os pelos e olhos negros, calado, nem se incomoda com visitas. Aproxima-se, mas volta em seguida para seu cantinho perto da porta. Na sala, quadros enfeitam as paredes. Alguns são de motivos religiosos. Retratam a fé de uma família essencialmente católica. Cenário de tristezas e angústias, mas também de muitos risos e gestos de amor, é ali que mora dona Marialva Dias dos Santos, 68 anos de idade.

Por trás dos óculos, seus olhos são doces e carregam a ternura típica de quem é avó. Têm o tom escuro, que contrasta com a pele clara, marcada pelo tempo. Claros também são os cabelos, já grisalhos e leves, que emolduram seu rosto. A baixa estatura esconde a grandeza de uma mulher com poucos conhecimentos acadêmicos, sem estudo ou diplomas, mas mestre em ensinar o amor. Quem a vê com a aliança na mão esquerda, logo percebe o laço de união entre ela e seu marido. Talvez não suspeite que ele já não está mais ali, pelo menos em presença física, pois das lembranças e do dia a dia da família, o patriarca nunca saiu.

A gente nunca esquece, eu nunca esqueço. Tem noite que eu fico pensando, pensando, tudo o que passou. É assim como se fosse um cinema, sabe? Tudo o que passou, às vezes vem tudo à tona. E a gente fica né, perde até o sono.

Ângelo faleceu vítima de um acidente vascular cerebral, deixando esposa e filhos. Mas sua morte não roubou a vida de quem ficou, pelo contrário, a família Livino dos Santos está completa, pois desfruta da plenitude de um amor que não morre.


Marido e mulher

 Foi um casamento simples, só teve um almoço, aí pronto. Eu não vesti de noiva, mas era um traje branco. Não casei de noiva como era o sonho de toda moça casar, porque não tinha condição de comprar um vestido, fazer uma festa. Ele também vivia do trabalho, sem ninguém pra ajudar. Porque o pessoal dele morava no interior e ele, em Salvador. Só sei que a gente casou, viveu bem, graças a Deus.

A senhora começou a namorar o senhor Ângelo com quantos anos, pergunto enquanto ela limpa os óculos. Olha, eu não sei bem a minha idade, mas reza meu documento, reza que eu tinha 23 anos. Reza, quer dizer, é modo de falar né; conta, né. Mas eu não sei direito, porque naquela época a gente nascia pelo interior da Bahia, pra lá, Nordeste, pra aqueles cantos de lá, e os pais não registravam.

Os dois se conheceram na Bahia, terra natal. Ao se encontrarem por acaso no prédio em que trabalhavam, foi um passo para o namoro. Marialva era babá. Cuidava de crianças terríveis, muito bagunceiras. Ângelo, cerca de onze anos mais velho, trabalhava no almoxarifado do edifício. Depois de um desentendimento com a patroa, Marialva foi trabalhar com uma enfermeira casada com um estudante de veterinária. O casal tinha uma filhinha e morava na cidade de Cruz das Almas, perto de Salvador. Trabalhou um tempo na casa dessa família e passou a se corresponder por cartas com o namorado, que estava em Vitória da Conquista.

Quando ele conseguiu arranjar a casa e os móveis, escreveu para que dessem entrada nos papéis do casamento.  Então ela voltou para a cidade onde se viram pela primeira vez. Casaram-se no civil. Antes sozinhos, passariam a ter um a companhia do outro a partir de então. Com essa cumplicidade, puderam dar o afeto que não receberam na infância. Luzia, Silvana, Manoel, Arlete e Nielma, seus cinco filhos. Cinco não. Descubro que foram, na verdade, oito. Três meninas que não sobreviveram devido dificuldades e complicações no parto.

Vinda da Bahia para São Paulo em 1964, já casada, passou a morar com o marido em Osasco por algum tempo. Nessa época oficializaram a união no religioso. Depois compraram um terreno em Francisco Morato, onde construíram uma casa de pau a pique. A cidade que antes era uma vila cresceu. E as dificuldades não diminuíram. Foi nessa época que perdeu as três crianças. Perdi não, Deus levou... A primeira com 6 dias  para 6 meses, uma outra que nasceu de 8 meses,; e depois que eu mudei pra aqui eu tive mais uma outra criança, era outra menina.

Acostumada ao clima quente do nordeste, Marialva custou a se adaptar na cidade da garoa, como falam, né. Tinha saúde, mas com o tempo, foi ficando doente. Meu marido também; pegou bronquite, ficava ruim de gripe. E eu reumatismo, doía demais, demais. Perceberam juntos que não apenas isso era diferente na nova cidade, mas o clima que rege as relações formais também. O marido trabalhava tomando conta de um almoxarifado, cuidando de tudo que entrava e saía, inclusive pagamento de outros funcionários. Em São Paulo, não conseguiu emprego por não ter curso de datilografia. Começou a trabalhar como servente de pedreiro para pagar o aluguel e evitar que passassem fome.

Tempos depois, arranjou emprego numa metalúrgica, que logo mudou de bairro e talvez, também de dono, devolvendo a Ângelo a condição de desempregado. Sofremos bastante; com o tempo ele ficou com a pressão alta e sofreu derrame. Ficou muito ruim. Superou. Aí com um ano e dois meses que ele tinha superado, quer dizer, ele já andava só para ir no médico, comprar alguma coisa, deu outro derrame, aí ele não resistiu.


Uma tarde, aquela tarde

Ele estava no serviço, no Ipiranga quando sentiu um mal-estar e foi levado ao hospital. O médico, após receitar um remédio, liberou Ângelo, que voltou para casa ainda debilitado. Com pouco equilíbrio e dificuldade para enxergar, foi difícil até para passar na catraca da estação de trem. No momento em que Marialva descreve a cena, a canção que tocava na sala e ouvíamos da cozinha, de repente parou. Com uma tristeza na voz, ela recorda que já em casa, uma dor de cabeça muito forte tomou o marido, que dava sinais de piora.

Depois eu levei no médico na Santa Casa. O médico aplicou uma injeção e teve de internar, porque ele ficou muito mal; arrumaram uma ambulância e levaram pra Franco da Rocha. Começou a piorar, vomitar. Numa sala, eu ouvia o barulho dele. Depois, ele saiu desacordado. Foi internado, com os aparelhos. Fui na visita, no outro dia
- É dona Maria, seu Zé só com um milagre pra ele escapar... (Disse uma moça que estava no hospital).

Marialva foi embora e passou o restante da tarde em casa. No dia seguinte, na madrugada, logo cedoligaram do hospital informando que ele tinha falecido. Foi muito difícil. Fiquei em estado de choque, passando mal. Me levaram na Santa Casa de Jundiaí, depois me deram uma injeção, eu dormi. Quando acordei, já tinha dado entrada na papelada do sepultamento, depois foi o sepultamento, no mesmo dia à tarde.

Junto aos cinco filhos, Marialva sofreu muito, uma vez que o marido sempre foi sua companhia. Vieram morar numa cidade sem nenhum parente por perto, e o apoio que tinham era um a presença do outro. Os filhos, ainda jovens, tiveram de aprender cedo as responsabilidades do trabalho para ajudar a mãe, além de dividir as tarefas da casa. O que ajudou foi a religião e a educação que eles tiveram, né. Do pai, minha mesmo. A fé teve e tem um espaço significativo no dia a dia da família. Diante da concretude da morte, contribuiu para dar voz ao pulsar da vida de quem ali ficava e de quem na memória ficou.

Não sou a pessoa ideal pra falar porque são meus filhos, mas a vizinhança tinha inveja deles, eles eram obedientes, andavam sempre na igreja. Não importava que tinha pouco recurso, mas andavam todos limpinhos. Sempre soube se proteger. Eu também fiquei viúva, não procurei mais ninguém, me dediquei a eles.


Outros dias, novos dias

Cadê minha cozinheira, que me deixou na mão?

Levanta-se, olha as panelas que deixou no fogão aos cuidados de uma das filhas enquanto conversava comigo. Ao fundo, uma música calma. Eu gosto muito de música religiosa. A trilha que embala os afazeres diários é quase sempre nesse tom. Menos  atraída pela televisão, Marialva prefere o rádio, que lhe acompanha em vez de lhe deixar presa durante o passar do dia. Às vezes eu canto junto, conforme as músicas mexem muito com a gente. Tem música que alegra a gente, eu vou fazer as coisas de casa, eu vou escutando, quando percebo, fiz tudo e nem vi que passou a hora.  Posso ir lá fora, não estando muito longe, eu escuto.

Entre as vozes prediletas, estão Adriana Arydes e o Padre Marcelo Rossi. Todos os dias, logo quando acorda, assiste pela televisão ao Momento de Fé com a sua bênção. Dele tem o livro e também o CD. E ainda se vier noites traiçoeiras, se a cruz pesada for, Cristo estará contigo. O mundo pode até, lhe fazer chorar, mas Deus lhe quer sorrindo.

Marialva leva a vida com alegria e preenchida com as memórias do passado, constrói seu presente. Lembro de forma alegre, tristeza só por causa dos problemas de saúde, dos acontecimentos. Até hoje eu sonho com ele. Sonho com ele com a roupa que usava pra trabalhar; às vezes, com outra roupa. Ajudando em casa... Às vezes vejo o rosto dele, outras não. Passa tudo, a gente passar por todas essas coisas, não e fácil. Mas o que agente tem que passar outra pessoa não passa pela gente.

Como numa trama de romance, as cenas passeiam pela sua memória que, ao longo de nossas conversas, não resgata com precisão as datas e o tempo decorrido de um momento a outro; mas descreve com detalhes aquilo que marcou de forma afetiva sua trajetória. Quando me despeço, pede desculpas por talvez não ter respondido a todas as perguntas, pois não teve estudo nem oportunidade. Não sei se lhe ajudei. Agora o almoço está quase pronto, estão todos ali. Menos Branquinho, que, esperto, fugiu de novo pela brecha do portão.

***Perfil Jornalístico escrito em 2012 para a disciplina de Conceitos e Gêneros Jornalísticos

domingo, 16 de março de 2014

Olhos que falam, bocas que calam

Por: Aline Oliveira

Da constatação de que a vida tem lá suas contrariedades, não dá para fugir. Mas elas são tantas, elas são muitas. Fica cada vez mais difícil saber em que (ou quem) acreditar.

Alguém diz que está tudo bem enquanto disfarça as lágrimas por algo que lhe faz mal. Alguém sorri e demonstra transbordar de alegria quando por dentro, tudo está em pedaços. É aquele jogo do que devemos ser, do que esperam que sejamos e do que realmente somos em meio a personagens de histórias reais.

Em um terreno de incertezas, não há dúvida de que encarar esse boom de bipolaridades exige muita paciência, sensatez e maturidade. Talvez resida aí o lado proveitoso de lidar com situações tão confusas.

Às vezes, vão dizer o com o olhar aquilo que negaram com as palavras. Olhos que falam e bocas que calam.  Na busca de enxergar o lado bom das coisas, meu olhar mira fundo no horizonte do seu.

Vivemos de “para sempres” que se acabam e de “só por hojes” que se repetem por incontáveis amanhãs.  Entre o sim, o não e o talvez, é melhor não perder de vista aquilo que realmente vale a pena.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Janelas


Por: Aline Oliveira

E a gente só se da conta que algo faz falta quando não tem mais. Assim acontece com as janelas. Falo sério, sério mesmo. A começar pelos ambientes fechados, sem interação com o ambiente externo, sem luz natural, sem ar. Além de tudo, ainda existem os amantes de ar-condicionado (aparelhinho que me irrita, mas sou minoria, então ok).

Voltando às janelas, pois bem. Percebi que gosto delas (não era para rimar...) e aí mais coisas fizeram sentido. Quando estou no ônibus e tenho a opção de escolher onde sentar, escolho claro, “sentar na janelinha”. Ponho o fone de ouvido e olho para fora, esqueço o que acontece ali dentro – a viagem fica até mais agradável assim.

Deixando de lado o sentido denotativo da palavra, esses recortes nas paredes, de vidro liso ou canelado, espelhadas ou transparentes, fazem muita diferença se pensarmos de forma mais subjetiva. Janelas me permitem olhar para fora e, quando não quero, ficar apenas com o que preciso olhar na parte de dentro. Interior e exterior. Os dois lados da vida de cada um de nós.

Claro que, se vem à sua mente aquela vizinha que não sai da janela e cuida demais da vida alheia, você vai achar que falo bobagens. Mas concorda que seria estranho alguém que vivesse sempre com a janela fechada e não desse as caras na rua?

No meio disso, fica aquilo que deve ficar mesmo no meio: o equilíbrio. Olhar sempre para fora faz-nos distantes de nós mesmos, de quem temos sido e do que podemos ser.

Saber o que devemos mudar impele ter autoconhecimento e se não olhamos para dentro do que somos, fica meio difícil achar respostas às próprias perguntas, dúvidas do eu sobre o eu. Olhar sempre para dentro também não dá muito certo, afinal vivemos em sociedade e a convivência com outro também faz parte da descoberta de si mesmo.

Por isso que janelas abrem e fecham. Por isso as quero. Por isso existem. Se quem olha para fora, sonha e quem olha para dentro, acorda, que nesse movimento de sonhar e às vezes acordar sabendo que a realidade é outra, a gente possa deixar a luz entrar na medida certa. Viva às janelas! 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Alegria de criança

Por: Amábile Oliveira


Hoje, quando voltava pra casa reparei em uma mãe com seu filho, de aparentemente 3 anos de idade, no metrô, sentido Palmeiras Barra Funda. A criança estava impressionada com tudo aquilo, era uma experiência nova pra ela, que dizia: "...nossa, a gente ta andando em cima das pedras" e ao passar pelo túnel, prosseguia: "parece que passamos pela parede!" 

Por fim, ao chegarmos ao nosso destino, o garoto disse: "Ah mãe, ja acabou? Queria ficar mais, foi a primeira vez que vim no metrô!"


Essa alegria do garotinho em algo que pra nós é muitas vezes uma atividade no mínimo estressante me fez pensar em quanto a vida "adulta" tira da gente o entusiasmo e a sensibilidade de perceber as coisas de uma forma sutil.


Que de vez em quando, possamos resgatar essa alegria simples de criança.
Essa alegria do garotinho em algo que pra nós é muitas vezes uma atividade no mínimo estressante me fez pensar em quanto a vida "adulta" tira da gente o entusiasmo e a sensibilidade de perceber as coisas de uma forma sutil.Que de vez em quando, possamos resgatar essa alegria simples de criança.


(Escrito em 12/02/2014)