domingo, 25 de setembro de 2016

Saudade que tem nome


Por: Aline Oliveira

Já não sei quando foi que me vi insegura diante de você, que sempre foi meu porto seguro. E ainda quero que seja. Todas as nossas conversas, as risadas compreensivas, os abraços sinceros, o afeto dos olhos que nada mais enxergam quando se veem. A vontade que tenho de morar em você, mesmo sabendo que você não é casa para se morar, está mais para cidade que acolhe turista que sempre quer voltar, de novo e de novo. Mas que não quer a pressão de ser abrigo. Eu sei, e concordo.
Queria negar essa vontade que tenho de te mandar a música que estou ouvindo, de dizer que li um texto muito bom e que precisava ouvir sua opinião. De te chamar para aquela peça caríssima, mas que parece valer muito a pena. De dormir e acordar tendo seu ombro disposto a me ancorar. 
Foto: Fernanda Carvalho / Fotos Públicas

Dia desses, em uma decisão que era só minha, quis você. Te dizer que estava confusa, precisava de opinião e na minha mente ecoou o número do seu telefone - que sei de cor desde sempre - mas não quis discar. Orgulho bobo, excesso de insegurança porque eu não sei viver sem transbordar. Ao passo que tudo estrago com essa mania de intensidade. Freio demais, por vezes até pareço amena, sem graça nem ímpeto. Quem dera. Quem dera ser por dentro essa calmaria de quem sabe ganhar. Eu não quero perder.

sábado, 30 de julho de 2016

Imprecisão

Por: Aline Oliveira

Preciso mudar o caminho pra não atravessar sempre a mesma rua, ver aquela fachada que aos olhos viciados já não tem novidade, eu preciso. Perder um pouco a hora, usar uma roupa não-planejada e achar que está tudo bem mesmo assim.
Preciso te chamar mais pra sair, e saber que se não for, posso sim ser boa companhia para mim mesma, eu preciso. Entender que vão me ver dessa forma, mesmo eu não sendo apenas uma só; e se quiser, posso ser todas aquelas que cabem em mim. Dizer mais vezes o quanto as coisas me agradam, deixar claro quando me irritam, e sair do sério nem que seja para rir de tudo depois, eu preciso. 
Pagar a conta do mês, aprender aquele idioma que não arranjo tempo, tomar menos café, me acabar no chocolate. Ficar menos bagunçada por dentro quando por fora houver caos, dar menos importância a pessoas que me magoarem, porque, inevitavelmente, eu magoarei algumas outras, ainda que sem querer.
Preciso sair do celular e olhar mais ao redor, ver que há tanta solidão por aí e não sou a única. Tomar banho de chuva, como fazia na infância, pegar um resfriado, ficar de cama e reclamar menos de dores de cabeça cotidianas. Eu preciso.
Idealizar menos, arriscar mais, e saber que o futuro é isso, impreciso. Eu preciso.

sábado, 2 de julho de 2016

Prece


​Por: Aline Oliveira

Cresça em mim. Quando eu procurar os porquês, mostre-me como; se não souber o que fazer, ensina-me. Ainda que na teimosia haja dúvida e impaciência, em ti quero me refugiar. Acalma meus pensamentos, assim como a chuva alivia o calor. Cresça em mim. Pegue-me pela mão e contorne meus sonhos com as linhas do teu amor; envolva em teu abraço meus risos e lágrimas, dores, dúvidas e certezas.
Cresça em mim. Por mim, por quem conheço, por quem não te conhece. Por todas as vezes em que internamente dizemos e ouvimos seu nome.
Ainda sou pequeno, cresça em mim.

domingo, 26 de junho de 2016

De mudança


Por: Aline Oliveira

me mudei
troquei a rua, o tamanho dos cômodos, meu CEP
desarranjei as gavetas dos sentimentos que pensavam ter morada
desconheci gente nova, senti saudades velhas
evitei olhar para trás, e deu medo de seguir em frente.
aprendi que muito escapa das mãos, queira ou não
coloquei-me numa caixa, onde quis que lessem frágil,
mesmo não sendo tão fácil de quebrar.
perdi a conta do tempo que passou até que fosse desfeita a bagunça,
e ainda há caixas que não estão vazias.

Eles não querem saber que horas ela volta


Por: Aline Oliveira

Pode ser quando estou de cabeça baixa, e os olhos miram as páginas de um livro qualquer, ou enquanto volto meus sentidos (sonolentos ainda, dependendo do horário) ao que toca no fone de ouvido, tentando abstrair do tempo que preciso estar e sair dali. Transporte. Noto que tem aumentado a quantidade de pessoas que pedem, vendem, entregam bilhetes ou entoam um discurso, sempre baseado na dificuldade de seus dias e de uma ajuda que esperam sem saber se virá.
Nos poucos segundos que estão disponíveis para decidir se iremos ou não pegar moedas da bolsa e ajudar, são muitos os questionamentos que se embaralham, mas que nem sempre trazem resposta. Quando me pego julgando se a pessoa “merece” ou não um trocado, esbarro na minha dificuldade de lidar com a desigualdade, porque ela me dói, e muito. E como é chato fazer esse julgamento, porque sei que ele não cabe a mim, nem em mim. 
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/17/politica/1466184671_749947.html

O fato é que o desemprego tem aumentado a passos largos. Segundo dados recentes do IBGE, já são mais de dez milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. E de acordo com dados da minha percepção, aumentou também nossa capacidade de indiferença, e falta de empatia. Não raro, ouço coisas do tipo Quer terra? Vai trabalhar em vez de atrapalhar o trânsito com protesto, o que eu tenho a ver com isso?; “Oportunidade todo mundo tem, se a pessoa não consegue um emprego (ou um emprego melhor), é porque ela é acomodada”; “Eu, pagar x reais para a diarista? Sai fora, ela que trabalhe mais!” E por aí vai. Difícil.
São realidades que talvez nunca entendam uma à outra. E para quem tem medo de perder seus privilégios, dificilmente haverá espaço para comoção com as ausências na vida de quem não tem essa palavra no dicionário dos dias. Por falar em dias, há poucos li uma notícia que tocou fundo, era sobre uma senhora que já não tem conseguido sobreviver com o dinheiro de suas faxinas. Era mais uma Val, em busca de sobrevivência.
Imagem extraída de https://ilikemoooviesmorethanpeople.wordpress.com/2016/01/12/o-brasil-dentro-da-piscina-de-dona-barbara/
Assisti a Que Horas Ela Volta? em outubro do ano passado, e sua mensagem ainda reverbera muito em mim. Quando subiram os créditos, me perguntei se ali naquela sala de cinema bem localizada, em que boa parte das pessoas estavam mais para Dona Bárbara, haveria um despertar com relação à desigualdade no país. Tomara que sim, embora muita gente ainda não queira saber para onde ela vai, muito menos que horas volta.

domingo, 5 de junho de 2016

Recomeços e alteridades

Por: Aline Oliveira

Imaginei esse texto partindo da vontade de abordar os recomeços, aqueles instantes em que nos damos conta da necessidade de refazer algo, ou mesmo, iniciar o que não havíamos feito ainda. Imaginei, e ao deixar os dedos tocarem as teclas do computador, deparei-me com a dificuldade de começá-lo, o primeiro parágrafo é sempre o mais demorado. Optei, assim, por essa confissão.
Ufa, agora posso soltar as ideias mais facilmente… será? Bora. Com o tempo, descobri que escrever era meu imperativo, independente de ser lida ou não. Isso porque escrevo coisas para que fiquem apenas no papel, ou citando uma metáfora de Rubem Alves que gosto muito, coisas que ficam apenas no quarto do nosso eu, aquele cômodo em que nem todo mundo entra; do outro lado, fica tudo aquilo que podemos (ou queremos) expor - o que ocupa a sala de quem somos, onde sempre cabem visitas. Pois bem.
Abro a janela dessa sala para falar do quanto os recomeços são enriquecedores. Os nossos e os dos outros também. Vez ou outra, é preciso mudar a rota, e nessa decisão pode caber o recolhimento ou o mergulho naquilo que nos rodeia. Dos mergulhos, das interações, daquilo que compartilhamos, vêm a troca e o crescimento. Alteridade. Aquele conceito de que somos interdependentes, e o nosso mundo individual existe porque existe também o contato com o mundo do outro.
Uma boa ilustração? Entrevistas, adoro entrevistas! O encontro das ideias, o desvelar de tudo que não sabíamos sobre alguém, a oportunidade de dar atenção ao que uma determinada pessoa tem a dizer. E aí me dá vontade de falar duas pessoas que voltaram com tudo (ressurgir também é recomeçar), e que acompanho há muitos anos: Regina Volpato e Marília Gabriela.
Prazer, eu sou é o nome do novo projeto de Regina, que traz entrevistas semanais em um canal no Youtube. Fora da TV já há algum tempo, ela parece estar cada vez mais perto de nós, com vídeos que tenho adorado acompanhar. Até agora, foram seis convidados - cada um deles com suas singularidades e tanto a dizer. Ao final, quem assiste ainda pode ver a inversão dos papéis, com o entrevistado fazendo uma pergunta àquela que nos entenderia em diversas situações (#reginavolpatomeentenderia feelings).
Gabi, ou Marília Gabriela, como preferir, também apostou em um canal no Youtube. São entrevistas que compõem o espaço Cá entre nós, e vídeos com poesias e leituras, no Só pra lembrar. Além disso, ela voltou a escrever em um blog dentro de seu próprio site. Sem falar no seu retorno ao Instagram, que para mim é o melhor perfil que sigo (quando ela deletou a conta em 2014, foi uma tristeza só. Sério).
Gosto dessa história de procurar sobre um assunto ou uma pessoa, e saber de outra, outra e mais outra. Aprendo tanto, que vale expressar a gratidão ao falar do que tenho assistido. Não aquela da hashtag, dos views e cliques nesses tempos de internet, mas a gratidão que vem de dentro, bem lá do fundo.

P.S. 1 - Falei de tanto, que não soube como terminar o texto, mas acho que deu pra entender.
P.S. 2 - da Regina, eu recomendaria a entrevista com Marianna Armellini; o vídeo já começa com um Prazer, eu sou livre, e aborda uma temática muito importante, o feminismo:

P.S. 3 - da Marília Gabriela, eu recomendaria a Carta para Elis Regina no TV Mulher (nem citei o programa no texto, ops), uma crônica linda, e de se emocionar:


sábado, 4 de junho de 2016

Duas décadas

Por: Aline Oliveira


Sim, tinha certeza. Na verdade, achou que tivesse. Vivia em meio ao caos e deixava aparente que tudo estava bem - aprendeu com o tempo que nem sempre valeria a pena se mostrar por completo. Aquele velho dilema de querer saber como lhe viam, e em contrapartida, temer tudo isso. Os rótulos que ganhava; os gestos e detalhes que lhe compunham, mas que não lhe resumiam.
Não há porquê de resumos e definições quando se pode ser aprendizado, incessante e insistentemente (não no sentido de forçar a barra, mas quase que por instinto). E ponto. Diante dos olhos aquela insegurança básica por tanto a se fazer, ser jovem mas não muito, não como antes. Ter menos espaço para errar, por cobranças internas e externas, e por vezes, ser livre de si e dos outros. Leveza. Bagunça. Por fora, tudo ok.
Não imaginariam as fotos apagadas, as dores rabiscadas, os amores intensos, o encanto pela liberdade. Os silêncios, os excessos, arrependimentos, a felicidade nos momentos simples. Os porres, o riso fácil, suas faltas. Ficariam com a ideia de que nada mudou.


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Página antiga


Por: Aline Oliveira


Te guardei, e pairo na dúvida de querer ou não. Amor de página antiga que ainda não consegui virar. Sabe, queria ter coragem de mandar a real toda vez que você aparece nas paisagens, nos sorrisos, ou em cliques corriqueiros em meio ao caos da cidade - que parece ser meu também. Queria não apagar a mensagem quando ela se aproxima demais do que guardo aqui de longe. Mais do que isso, queria não ter medo do que você sentiria ao ler.

Seria mais fácil se não aparecesse com esse jeito que me encanta, a conta-gotas, quando meu desejo era que transbordasse tudo, sem ligar para as razões inventadas que usa para sumir.
É tudo tão líquido, mas eu prefiro a solidez. Nosso caso é paixão que bebo sozinha esperando quem não sabe se vem, e que ainda não foi embora de vez.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Mas, só pra te lembrar



Por: Amábile Oliveira

Que assim de repente seu nome me veio à mente. Mentira. Isso é só uma desculpa que me forço a acreditar todos os dias tentando esconder que na verdade o seu nome está aqui gravado e eu não sei como apagar. Mas eu não sei tantas coisas, confesso.
Não sei como, sem que eu esperasse, você se tornou parte dessa história, num capitulo que não consigo terminar de ler e que não consigo encontrar um desfecho. Quem sabe ele ainda não terminou de ser escrito. Reticências.
Não sei se viajei demais nessa história toda, se me prendi demais aos detalhes enquanto você não fez questão nenhuma de ser detalhista. Quem sabe isso também seja só um detalhe.
Não sei.
Não sei se se foi erro ser todo-ouvidos, ouvir sempre e até demais e me calar diante de quase todas as vezes em que discordávamos, quando a única voz que conseguia ouvir era a desse coração bobo e frágil, ignorando o pouco de racionalidade que tive esse tempo todo.

Mas, só pra te lembrar
eu não sei lidar com tudo isso.
Mas eu não sei tantas coisas.
Eu não sei fazer jogos, dar as cartas, virar a mesa. Não entendo de blefes e essas artimanhas que não combinam em nada com tamanha sinceridade e falta de paciência pra essa coisa de fingir que não quando o sim tá na cara. Praticidade demais? Acho que não. É só uma aversão a essa mania de complicar as coisas.

Mas, só pra te lembrar
Talvez tudo pudesse ser diferente, se você não tivesse essa mania também. Quem sabe se você deixasse de lado esse hábito que tem de fazer de conta que não se importa, ou pelo menos de não fazer questão de ser coerente com o que sente, ou sentia, sei lá. De sumir e reaparecer a hora que bem entendesse, só pra bagunçar o que eu achei que tinha conseguido arrumar e, mais de uma vez. Mas, talvez a sua pior mania seja essa de impregnar meus pensamentos, de fazer parte dos meus planos e da falta deles também. De ser a única esperança de que as coisas ficariam bem em um dia daqueles em que tudo dá errado e você só pensa em chegar em casa e ter um colo que te acolha.

Mas, só pra te lembrar
não quero que pense que estou procurando um culpado.
Longe de mim.
Pensando bem, talvez tudo pudesse ser diferente se eu não tivesse essa mania de não conseguir imaginar os dias sem você. De não sumir. De não te tirar dos meus planos. De tremer na base quando aparece seu nome em uma notificação qualquer. De não te deixar ir, porque nunca quis que fosse.

Mas, só pra te lembrar
Quem sabe minha pior mania seja tentar entender tudo isso.
Logo eu, que não sei tantas coisas.